Suspeitas de desvios de dinheiro e nomeação de parentes da
presidente pesam sobre federação controlada por sindicatos fantasmas – e
ligados ao PDT
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) contratou a PwC,
uma empresa de auditores independentes, para realizar uma devassa nas contas e
procedimentos da Federação das Indústrias do Estado do Amapá. A federação, que
controla o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o Serviço
Social da Indústria no estado, recebe repasses de cerca de R$ 20 milhões por
ano das entidades nacionais. A auditoria começou há cerca de um mês, após a
direção da CNI ter recebido informações de que sindicatos fantasmas passaram a
controlar a federação, desviando dinheiro do caixa da entidade.(Da esquerda para a direita: Rosemiro Rocha, Joziane Rocha e Robson Andrade Foto: Reprodução/Facebook)
Sob a influência dos primos Rocha, Joziane assumiu a
presidência do Sindicato de Joalheiros e Ourivesaria do Amapá em 2009, mesmo
ano do enlace com Rosemiro. O sindicato de Joziane não tinha empresas filiadas
por um motivo simples: só havia ourives artesanais e informais no Amapá. Nada
de indústria. Ainda assim, com a ascendência de Bala Rocha no Ministério do
Trabalho, administrado pelo PDT, o sindicato conseguiu um registro que
reconheceu sua existência. O mesmo fenômeno ocorreu com outros seis sindicatos
(mármores, reparação naval, pesca, papel e celulose, extração de óleos vegetais
e material plástico). “Eu lembro dele (Bala Rocha) no ministério para conversar
sobre esses sindicatos”, disse o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que
aprovou os registros. Cinco dos sete sindicatos, incluindo o de Joziane, têm o
mesmo endereço como sede em Macapá. Meses antes dos registros, chegaram ao
ministério denúncias sobre a condição fantasmagórica dos sete sindicatos. De
nada adiantou. O Ministério do Trabalho deu vida aos fantasmas.
Quatro carreiras que dão futuro
Começava ali a saga dos sindicatos fantasmas para controlar
a federação das indústrias, que, além de um orçamento milionário, emprega cerca
de 500 pessoas, número superlativo para uma economia tão incipiente quanto a do
Amapá. Com a papelada do Ministério do Trabalho em mãos, os sete sindicatos
obtiveram na Justiça do Trabalho o direito de ingressar na federação, mesmo sem
comprovar a existência de uma única empresa filiada.
A chegada dos sete sindicatos fantasmas à federação, que
contava apenas com 13, mudou o panorama. O ex-presidente da instituição
Hidelgard Gurgel - pertencente a um outro clã de políticos do Amapá,
naturalmente – foi afastado do cargo pela turma de Joziane. Logo depois, a
mesma turma sacou R$ 150 mil, em dinheiro vivo, de uma conta da federação no
Banco do Brasil, em Macapá. A operação foi ilegal – apenas o coordenador
regional do SENAI tinha autorização para movimentar essa conta. Inconformado
com o saque, esse funcionário prestou queixa à Polícia Federal, que abriu uma
investigação sobre o assunto.
Desde que assumiu a federação, ninguém teve notícias de
medidas sugeridas por Joziane capazes de transformar o Amapá numa potência
industrial. Joziane, porém, tratou logo de garantir o bem estar de sua família.
O marido é coordenador político da federação e tem salário de aproximadamente
R$ 20 mil. O pai, a mãe, a irmã, o irmão e a cunhada de Joziane também estão na
folha de pagamento, igualmente com bons salários. Ligeiríssimo, o deputado Bala
Rocha também empregou os seus. A irmã e um primo garantiram cargos ligados à
federação.
Bala Rocha está irrequieto. Sabe que a situação dos sete
sindicatos fantasmas é provisória. Existe um processo no Tribunal Superior do
Trabalho (TST) que trata da questão da legitimidade de tais sindicatos. Nos
últimos meses, Bala Rocha buscou sustentação política para Joziane em Brasília.
Um dos alvos de Bala Rocha foi o presidente da CNI, Robson Andrade. “O Robson
me disse que o Bala esteve lá (na CNI) para pedir pela permanência de Joziane
na federação”, disse à ÉPOCA Hidelgard Gurgel, o político que perdeu o cargo
para Joziane. Bala Rocha não quis falar a ÉPOCA. Por meio de sua assessoria de
imprensa, Bala Rocha afirmou não ter feito lobby para os sete sindicatos no
Ministério do Trabalho e disse que os sindicatos não são fantasmas.
Por meio da assessoria de imprensa da CNI, Robson Andrade
confirmou a visita de Bala Rocha ao seu gabinete, mas disse que não conversaram
sobre questões da federação. Robson Andrade disse, ainda, que não pode
interferir em assuntos das federações estaduais, que tem, segundo ele,
autonomia. No entanto, após ser procurada por ÉPOCA, a CNI contratou a PwC para
fazer auditoria nas seções do SESI e do SENAI no Amapá, controladas por
Joziane. Os trabalhos deverão ser concluídos até o fim deste mês e levados às
reuniões dos conselhos nacionais das duas entidades em Brasília. ÉPOCA apurou,
no entanto, que a auditoria encontrou irregularidades de vários tipos,
especialmente na contratação de fornecedores. A reportagem enviou 15 perguntas
à Federação do Amapá, sem obter respostas. Encontrar Joziane Rocha é tão
difícil quanto achar vestígios das indústrias filiadas à federação que ela
preside.
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