No comando da Confederação Nacional do Comércio há 33 anos, Antonio Oliveira Santos é acusado de utilizar recursos bilionários para driblar sentenças, asfixiar a oposição e perpetuar-se no poder
Por Hugo CILO
Fonte: www.revistaistoedinheiro.com.br

Oliveira Santos: aos 85 anos, faz planos para se reeleger em 2014
pela nona vez na presidência da entidade
Eleito com o providencial apoio do então todo-poderoso general
Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil do governo Figueiredo, em
plena ditadura militar, Oliveira Santos ocupa o posto desde 1980 – há
exatos 33 anos. Amparado em recursos que chegam a R$ 4,8 bilhões por
ano, o presidente da CNC vem resistindo às transformações impostas pela
redemocratização do Brasil, a despeito das inúmeras ações que correm na
Justiça. Graças a essa dinheirama, arrecadada sob a forma de imposto
sindical e da contribuição das empresas ao chamado “Sistema S”, Oliveira
Santos controla com mão de ferro, como se fosse um coronel nordestino
da velha-guarda, os repasses às 27 federações do comércio (as
Fecomercio) existentes no País e às estruturas do Sesc e do Senac.
Desde o primeiro mandato, o octogenário presidente da principal
entidade do comércio brasileiro tem sido reeleito, em chapa única, a
cada quatro anos. Não por desinteresse de outros candidatos. Ao
contrário. Segundo seus adversários, a estratégia de Oliveira Santos
seria asfixiar potenciais sucessores, os presidentes das Fecomercio,
diante de qualquer esboço de oposição. “Sempre que se levanta algum tipo
de questionamento em relação à CNC, ele decreta intervenção no Sesc ou
no Senac, suspendendo o repasse legal de recursos, forçando os possíveis
candidatos a desistir”, diz Cristiano Zanin Martins, advogado da
Fecomercio do Rio de Janeiro. Detalhe: engenheiro de formação, Oliveira
Santos nunca foi comerciante na vida.
Pode-se observar que as constantes intervenções do presidente da
CNC costumam realmente ocorrer com mais frequência nas federações nas
quais seus presidentes se apresentam como oposição. Em 1997,
Oliveira Santos decretou intervenção no Sesc e no Senac de Pernambuco e
nomeou para a presidência seu correligionário Josias Albuquerque, que
atualmente também ocupa o cargo de vice-presidente da CNC. “Nunca
fui favorecido por ninguém, tanto é que tiro dinheiro do meu bolso para
trabalhar”, rebate Albuquerque, em relação ao suposto favorecimento do
amigo. “O Antonio tem sido reeleito há três décadas, sem oposição,
porque é um excelente gestor. E, até agora, ninguém teve competência
para assumir a entidade no lugar dele.”
Essa suposta falta de competência dos opositores foi um dos
argumentos que fizeram com que o presidente da CNC também decretasse
intervenção no Sistema Fecomercio do Piauí em 1999. No mesmo ano, ele
afastou ainda o presidente da Fecomercio do Rio Grande do Sul, Renato
Seghesio, que publicamente criticava a gestão da CNC. Em 2002, Oliveira
Santos adotou a mesma tática com Sergio Koffes, presidente da Fecomercio
do Distrito Federal, considerado à época um nome forte para sucedê-lo.
“Tenho muita coisa a dizer, mas prefiro me pronunciar apenas na esfera
judicial”, disse Koffes à DINHEIRO. “Temos vários processos que correm
na Justiça desde aquela época.”
O mais recente ataque de Oliveira Santos contra seus potenciais
concorrentes ocorreu em 2012. O presidente da Fecomercio do Rio de
Janeiro, Orlando Diniz, tido como seu adversário número 1, foi afastado
sob o argumento de suspeitas de corrupção. Seu lugar foi ocupado pelo
empresário Maron Emile Abi-Abib, amigo do presidente da CNC. Pouco
tempos depois, Diniz, que está em seu segundo mandato, retornou ao cargo
por determinação da Justiça por falta de provas. “As ofensivas do
presidente da CNC demonstram, claramente, tentativas de evitar a
alternância de poder na entidade e a perpetuação de sua gestão”, diz
Zanin Martins, advogado de Diniz.

Os 33 anos de permanência de Oliveira Santos à frente de uma
entidade do porte da CNC, seriam, por si só, motivo de estranheza em
qualquer lugar do mundo. Há, no entanto, um outro fato inquestionável em
sua administração: ele não poderia, segundo o estatuto da própria CNC,
estar na presidência, porque suas contas, do exercício de 2000, foram
rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2004. Nesses quase
dez anos, o presidente tem reco rrido a liminares para se manter no
cargo, reelegendo-se a despeito de suspeitas de fraudes e de processos
por improbidade, muitos deles já concluídos. Os problemas vão mais além.
O Conselho Fiscal do Sesc, cujo papel é fazer cumprir o
estatuto, estaria fazendo vistas grossas às condenações de Oliveira
Santos no TCU e na Justiça. O conselho é presidido pelo atual
secretário-executivo da Receita Federal, Carlos Gabas. Em abril, ao ser
comunicado pelo TCU da rejeição das contas do presidente, Gabas divulgou
um documento no qual se abstém de comentários. “A decisão final do TCU,
que rejeitou as contas do senhor Antonio, é apta a gerar a perda do
mandato”, afirma o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, em seu
parecer no processo. “Os dirigentes do Sesc e do Senac, que mantêm o
presidente no cargo, estão também incorrendo, em tese, na prática de
improbidade.”
As acusações contra o presidente da CNC são tão extensas quanto seu
período à frente da entidade, e se renovam com uma impressionante
rapidez. A mais recente delas diz respeito à locação de um apartamento
de luxo na Barra da Tijuca para Claudia Fadel, uma diretora do Sesc,
pessoa próxima a Oliveira Santos. A entidade paga, desde abril, aluguel
de R$ 7,5 mil pelo imóvel, além de ter desembolsado um seguro-caução de
R$ 107,5 mil no ato da assinatura do contrato. A CNC nega
irregularidades e diz que, como Claudia apresentou problemas de saúde, a
locação de um imóvel próximo ao Sesc foi a solução para não haver
prejuízos à sua atividade profissional.
Outro descalabro atribuído a Oliveira Santos, também rejeitado pelo
TCU em 2010, e hoje sob investigação do Ministério Público, é a
construção de um prédio na Barra da Tijuca, erguido para sediar a CNC, o
Sesc e o Senac. A execução da obra, que custou R$ 200 milhões e estaria
apresentando problemas estruturais, ignorou a realização de licitação
pública. “A construção irregular resultou em prejuízos de centenas de
milhões de reais ao Sistema S”, afirma Zanin Martins. Procurado pela
DINHEIRO, o presidente da CNC recusou-se a responder pessoalmente às
acusações. Seus advogados, Leonardo Greco e Arthur Lavigne, não
retornaram as ligações. Oliveira Santos, no entanto, resolveu
manifestar-se por meio de sua assessoria.
Sobre a rejeição de suas contas pelo TCU em 2004, afirmou que a
irregularidade se deu por uma “simples deficiência de natureza formal” e
que “tais contas foram aprovadas por unanimidade pelo Conselho do
Sesc”. Em relação à construção da sede na Barra da Tijuca, garantiu que
não há nenhuma condenação e que o edifício recebe cerca de mil
funcionários diariamente. Sobre seus 33 anos na presidência, sem
oposição nas eleições, a resposta é que isso “reflete a vontade e o
consenso de seus pares, a partir dos méritos de sua gestão” e que “não
há histórico de embates com presidentes das Federações, nem houve
cerceamento de direito de oposição”. No ano que vem, a CNC passará por
um novo processo eleitoral. O nome de Oliveira Santos, por enquanto, é
dado como certo. E, provavelmente, o único.

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